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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Bambusa oldhamii - UM BAMBU PARA O FRIO

Bambusa oldhamii

            UM BAMBU PARA O FRIO

PORQUE CHEGUEI A CONCLUSÃO QUE ESTE É O BAMBU CERTO PARA O SUL DO BRASIL... E TAMBÉM A MINHA HISTÓRIA DE AMOR PARA COM ESTA ESPÉCIE




As fotos abaixo mostram a sequência cronológica da evolução das plantas colocadas na área para o teste.
EM 2002


A sequência da colocação das mudas foi a seguinte: 14 mudas alinhadas do primeiro plano até a última - Bambusa vulgaris(1) - Bambusa vugaris(1) - Bambusa oldhamii(1) - Dendrocalamus asper(4) - Bambusa oldhamii(1) - Dendrocalamus asper (3) - Bambusa vulgaris(1) - Bambusa oldhamii(1) Bambusa nutans(1). Esta sequência pode ser observada nas fotos a seguir.
Em 2003


Nesta foto se observa a sequência citada acima. A primeira, à direita da foto é o B.vulgaris a seguinte é o B.oldhamii as outras 4 adiante são os D.asper (já demostrando desenvolvimento menor que os B.oldhamii). As maiores em altura são os B.oldhamii. Na foto abaixo esta evidência fica mais clara.
em 2007



..17 ANOS DEPOIS


                                   

A sequência em sua plenitude, onde os B.oldhamii tomaram uma proporção tão grande que, praticamente, encobriram os D.asper.

UM POUCO DE HISTÓRIA

A primeira vez que vi uma touceira adulta do Bambusa oldhamii foi fora do Brasil, em um passeio dentro do Disneyland Park em Anahein,CA na beira de um lago artificial, lá pelos anos 2000. Depois o vi em uma coleção de bambus no Huntington Garden, em San Marino na grande Los Angeles,CA  durante uma Convenção anual da American Bamboo Society em 2004, que participei. 

Bambusa oldhamii da Disney

A touceira do Huntington me causou uma impressão muito maior do que as que tinha visto anteriormente na Disney, pois era simplesmente "enorme" muito bem cuidada, com colmos em sua plenitude de configuração, com varas de um verde intenso e muito retas.
Nesta época eu já tinha plantadas no meu local algumas touceiras de Bambusa vulgaris e muitas de Bambusa vulgaris "vittata" já adultas,
bem como outras espécies  de bambus alastrantes. 
As minhas mudas de B. oldhamii e D. asper(adquiridas na coleção da Unesp/Bauru) eram muito jovens ainda nesta época e não passavam de "algumas varinhas" de no max. 5cm de diâmetro. 
Mesmo já tendo estes bambus na minha coleção, não podia fazer nenhuma comparação com os que tinha visto por serem muito jovens. Eu não tinha idéia no que eles se transformariam quando os plantei. Mal sabia que aquelas "plantinhas" teriam aquela portentosidade quando ficassem assim como as do Huntington Garden.


Estas fotos são dos B.oldhamii atualmente e chegam a ser maiores ainda dos que tinha visto lá além de serem mais altas e mais eretas.




No Huntington Garden, diga-se de passagem, existem dezenas de outras espécies de bambu(70) ali cultivadas pelo proprietário anterior do local, que era um aficcionado por plantas e tinha um imenso jardim com uma bela coleção de Bambus. 
É um passeio muito bom, em uma  ida a Los Angeles, incluir uma visita a este local, que além dos bambus tem uma coleção de Cicas, Orquídeas e outras plantas.
O "The Huntington Garden" é uma biblioteca e um verdadeiro palácio com coleção de artes e decoração de conservação impecável.
Ler mais sobre ele em: http://www.huntington.org e pode ficar hospedado lá mesmo.

Algumas vezes já tinha observado a presença do B. oldhamii em outros locais, mas ainda desconhecia sobre as diferenciações desta espécie comparada as outras do mesmo gênero Bambusa. 

Quando retornei de lá, sabendo que tinha no meu local 8 mudas de B.oldhamii plantadas, já com 2 anos, fiquei mais empolgado em fazer com que elas chegassem próximo da beleza das que tinha visto lá.

Depois disto comecei a observar o quão difundido e admirado era este bambu nos EUA, no mundo todo e aqui no Brasil também, junto a colecionadores que já os tinham plantados e  outros usuários.

Um ano depois, em 2005, fui visitar  a Fazenda dos Bambus em Pardinho e a UNESP em Bauru quando o prof. Marco Pereira me apresentou as matrizes de onde teriam vindo as minhas mudas.

Visita a Bauru e mudas do Marco Pereira com Hans Kleine e David Escaquete

Realmente confirmei o que eu já estava convencido:... se ele não era o "REI DOS BAMBUS" (porque os Dendrocalamus asper,giganteus, sinicus, etc... eram mais poderosos em dimensões), ele poderia ser o "PRÍNCIPE DOS BAMBUS" entouceirantes. 
Comecei a ler e pesquisar sobre ele e a fazer um  teste que certamente me levaria a uma conclusão importante para o desenvolvimento do bambu aqui no extremo sul do Brasil.
Iniciei então os testes de adaptação dos bambus entouceirantes de grande porte aqui na minha região(que é representativa de boa parte de nossa topografia e clima), principalmente considerando o Bioma Pampa.
Região de baixa altitude, com 90m em relação ao nível do mar, com temperaturas que vão de -7ºC  indo a mais de 25ºC em um dia de inverno com direito a geadas e congelamentos á noite. O gelo derrete nas primeiras horas da manhã a ponto de cozinhar as folhas geladas e deixá-las pendentes e murchas em poucas horas. Em dois ou três dias elas estarão secas e cairão.



Acima fotos de algumas geadas e abaixo o resultado delas poucos dias depois em uma das mudas do D.asper, que estão plantadas junto com os B.oldhamii no teste acima citado.
Obs.: Tenho um artigo sobre as geadas neste blog escrito anteriormente com algumas fotos e situações. 

Neste local escolhido para o teste pode acumular 20 cm de água, durante chuvas intensas e drenar em alguns dias, porém deixando a área encharcada algum tempo.
Da mesma forma, no verão os extremos também são duros tendo temperaturas que podem atingir 42ºC ao sol. O solo encharcado do inverno fica empedrado de tal forma por durante o longo período de verão.(15/nov a 01/mai)- 5 meses.
Como conheço bem meu local, em relação as áreas de maior ou menor acúmulo de água quando chove muito, e também as áreas de maior incidência de geadas e de outras condições que poderiam influenciar os testes, foi relativamente fácil encontrar o local ideal.
Logicamente não escolhi um local onde estivesse permenentemente encharcado, pois certamente ali nem as mudas plantadas iriam se desenvolver. Foi escolhido um local próximo como se pode ver na foto acima. Durante a chuvarada temporariamente as touceiras acumulavam um pouco de água no entorno e para evitar isto foram abertos drenos.

Início do plantio/teste em 2002


Foram colocadas em linha 14 touceiras de bambus com tamanho aproximado de 1m de altura, intercalando Dendrocalamus asper, Bambusa oldhamii, Bambusa vulgaris e Bambusa nutans. 

As mudas foram colocados numa só fileira a uma distância de 5m uma da outra, no sentido do caminho do sol, de leste a oeste. Para o teste foram alinhados os Bambusa oldhamii, Dendrocalamus asper, Bambusa vulgaris, Bambusa vulgaris vitatta e Bambusa nutans, na sequência citada anteriormente, com o objetivo de comparar o comportamento do desenvolvimento destas diferentes espécies num mesmo local, sob as mesmas condições de clima, solo, disponibilidade hídrica e outros fatores não menos importantes citados antes.
As espécies foram escolhidas em função de já ter sido observada a presença delas aqui no sul do país considerando que estas espécies, de uma certa maneira, poderiam resistir ao nosso clima.
Foi escolhido um local aberto, sem árvores em seu redor, onde as plantas pudessem ser submetidas as condições de insolação constante e, logicamente, as agruras do frio no inverno. Todas plantadas no mesmo dia, submetidas ao mesmo tipo de preparo de solo e covas.
Estas plantas foram  colocadas no Bambuplatz Garten desde que haviam sido adquiridas em 2002 com um porte não superior a 1,5m de altura como se vê nas fotos abaixo e no início deste artigo.




Foi feita uma análise de solo e nehuma correção foi indicada. Desta forma se presume que a condição de nutrientes seria equalitária a todas as espécies, logicamente desconsiderando que uma espécie ou outra iria ser mais exigente com algum tipo de nutriente ou alguns dos demais fatores expostos.

Este local onde os bambus foram colocados em linha tem as características específicas para os fatores que queria testar:

1 - TIPO DE SOLO - Profundidade de solo macio: 60cm - A partir desta profundidade um solo quase impenetrável de material lodo-arenoso - muito encharcado no período das chuvas(maio a novembro) e endurecido, quase impenetrável no período seco (dezembro a abril). Foi necessário fazer canaletas de drenagem a 2m de distância das touceiras para reduzir o encharcamento. No verão estas canaletas eram fechadas nas extremidades para evitar que a água fosse drenada para fora da área das touceiras.
Nas fotos se pode observar isto.
2 - CAMPO ABERTO e sem nenhuma vegetação alta ao seu redor (que é uma peculiaridade dos campos aqui da região metade sul e área de fronteira, onde não tem montanhas) 
3 - CLIMA - Bastante sol  ao redor durante o ano todo - Muitíssimo quente no verão, chegando a 40ºC ou mais ao sol.
- Bastante frio e geadas no inverno - Indo facilmente de -7ºC aos 25ºC em um mesmo dia de inverno.
4 - ALTITUDE - Regiões de baixa altitude em relação ao nível do mar(90m).
Procedimentos posteriores - Com o passar dos anos foram feitos manejos regulares nas plantas com a retirada de alguns colmos no interior das touceiras e desgalhamento na região dos brotos.

Ano a ano comecei a diferenciar a evolução das diferentes espécies plantadas. Ficava evidente  o diferente comportamento e desempenho do B.oldhamii em relação às outras espécies que estavam juntas. No ano de 2009 houveram geadas intensas e frequentes. que causaram uma queda apreciável na evolução de todas as demais espécies ali plantadas. Os Dendrocalamus asper chegaram a perder 90 % de seus ramos.

 
em 2009
    Observando os B.oldhamii(os mais altos) em relação aos outros em 2009.

Na foto acima se observa o que a geada do inverno, recém terminado, causou aos Dendrocalamus asper( que é uma daquelas três plantas que estão no centro da foto). Não esquecendo que todas estas plantas da foto foram plantadas no mesmo dia e hora.
Tal foi o prejuízo que elas praticamente nunca se recuperaram, como se pode ver nesta foto abaixo 5 anos depois.

Em 2014
Para evitar perda maior removi algumas destas mudas de Dendrocalamus asper para outro local mais protegido dentro do Bambuplatz Garten, onde elas evoluíram de tal forma que hoje apresentam colmos com mais de 15 m e diâmetros de mais de 20cm.


Diâmetro do B oldhamii maior do que 10cm

(Fotos de ângulos diferentes)
 

 

Durante este período comecei a produzir mudas a partir daquelas matrizes e as distribui em toda a minha propriedade, em locais diferentes, pois tenho alguns locais de solo com menor umidade residual e maior profundidade de solo e também outros locais protegidos por outras árvores. Em cada um destes locais o desempenho foi exemplar. Em todos consegui obter diâmetros nominais com varas de excelente qualidade. Chegando a obter varas de 10 cm de diâmetro e mais de 15m de altura extremamente retilíneas.
Muitas destas mudas produzidas foram adquiridas por outros colecionadores e estão distribuídas em diversas regiões do estado e do país, sempre com o relato de excelente desempenho.

Seguem algumas fotos de detalhes e medidas do B.oldhamii em sua utilização em paisagismo:





























O Bambusa oldhamii é conhecidamente  um dos brotos comestíveis de ótimo paladar e rendimento, além de outras dezenas de aplicações tais como: Estruturas como madeira, na indústria do artesanato, madeira para móveis, para laminados (BLC), compósitos, geração de energia, fibras para celulose e outras aplicações. Este tema será abordado em outra publicação específica para usos e aplicações das diversas espécies de bambu que poderão ter um bom desenvolvimento aqui no sul do Brasil 


CONCLUSÃO

O Bambusa oldhamii foi a espécie que melhor se adaptou às variações climáticas aqui na minha área, que está localizada na região da metade sul do estado do Rio Grande do Sul, quando comparada com as espécies entouceirantes citadas.
- Não é sensível às geadas, pois após elas, no dia seguinte, as folhagens não aparecem secas ou queimadas pelo congelamento da noite anterior mantendo-se verdes, mesmo em situações de geadas em dias consecutivos
- Não é sensível a baixa umidade do ar e também se mantém estável por longos períodos sem chuva.
 - Resiste bem a algum período de encharcamento de solo e mantém seu desenvolvimento normal mesmo nestas condições.
Estas características contrastam com as outras espécies entouceirantes que foram colocadas juntas com o B oldhamii nesta área. Algumas morreram e outras ainda permanecem sem evolução significativa, quase no mesmo tamanho que foram plantadas há quase 20 anos.

Os Bambusa vulgaris, plantados ao lado dos B.oldhamii conseguiram atingir dimensões superiores aos D.asper e B.nutans, mas ao iniciar o inverno perderam as pontas dos brotos que ainda não tinham galhado e cairam ao solo, os ramos que foram abertos secaram com as geadas e os colmos secaram nas extremidades. As varas perderam comprimento e ficaram retorcidas. O que não acontece com o B.oldhamii.

Os D. asper ficaram estáveis e ali estão até então, não evoluíram e não passaram de umas touceiras de 3 ou 4 varas de diâmetros não superior a 5cm. Isto comprova que entre os dois, B.oldhamii e D.asper, no referente as condições idênticas a que foram ambos submetidos o B.oldhamii demonstra sua superioridade de desempenho.

Como citei, tenho retirado mudas dos D.asper(destes que não se desenvolveram na área de teste) e os tenho colocado em outros locais mais protegidos por outras vegetações, dentro do próprio Bambuplatz Garten, onde atingiram estágios de evolução e crescimento mais próximos de sua configuração (de bambu gigante),com diâmetros de 20 a 25 cm. Mesmo assim, estes bambus não alcançam sua configuração de origem(nas suas origens-Ásia) se mantendo menores em altura e diâmetro. Muitas vezes também perdem a ponta ao atingirem o topo da touceira aos primeiros dias de geada no final do outono, o que nunca ocorre com o B.oldhamii.

Na foto abaixo uma das mudas(de B.oldhamii) que foi replantada da área teste para o meio da floresta da minha coleção no Bambuplatz Garten.


Outras fotos do B.oldhamii

 PRODUÇÃO DE MUDAS ATUALMENTE

 
Comentário final:


Como todos estes experimentos foram empíricos e não tiveram acompanhamento técnico de profissionais da área agrícola devo admitir que, se o tivesse feito, poderia ter orientado a evolução destas espécies de forma a garantir um desempenho diferente do que obtive, mas não era este o objetivo.
Como é sabido pelos que transitam no meio do bambu, esta planta não é uma planta estudada e conhecida na área de madeiras e reflorestamentos e poucos são os profissionais(aqui da região sul) que sabem sobre ela. Desta forma, o objetivo seria justamente de orientar aos interessados que quisessem iniciar o plantio de bambus por aqui sem que tivessem orientação profissional (assim como foi feito).
Convém esclarecer que os Dendrocalamus asper são bambus de grande porte e de diâmetro muito superiores ao do B.oldhamii . Aqui mesmo, dentro do Bambuplatz Garten os tenho com desenvolvimento exemplar, porém "somente" na área testada e naquelas condições citadas não apresentaram o desempenho esperado sendo superados pelos B. oldhamii.