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sexta-feira, 24 de junho de 2016

CELULOSE E PAPEL DE BAMBU -

CELULOSE E PAPEL DE BAMBU

             ANTIGA FÁBRICA DE PAPEL DE BAMBU DE

                              BOM RETIRO DE GUAÍBA


Por alguns anos estive escrevendo(e reescrevendo) este artigo. Cada vez que recebo uma visita de bambuzeiros de fora do Estado faço este caminho através de BOM RETIRO DE GUAÍBA-RS(atualmente município de Eldorado do Sul), que passa por uma estrada vicinal ao caminho que vai ao Bambuplatz, para que possam ver um "Passado recente da história do Papel no Rio Grande do Sul" e a participação do Bambu nesta história.
MAPA DE SITUAÇÃO DA ANTIGA FÁBRICA DE PAPEL DE  BOM RETIRO EM RELAÇÃO A PORTO ALEGRE/GUAÍBA COM O PORTO DE RIO POR ONDE SE ESCOARIA A PRODUÇÃO ATÉ PORTO ALEGRE.
A história desta antiga fábrica de papel se funde com a história do papel no Brasil. Caso não seja considerada a primeira fábrica de papel do Brasil(por questão da data imprecisa de sua fundação), certamente seria a primeira fábrica de papel do RS. Foi a precursora da atual configuração que tem o município de Guaíba de ser hoje o maior polo de Celulose e Papel do RS.
Hoje, neste município, estão operantes algumas unidades das grandes indústrias de celulose e papel do Brasil.
Como meu sítio BAMBUPLATZ GARTEN está localizado a apenas poucos minutos do local, em  visitas a Bom Retiro, contatos na minha vizinhança e alguns textos da web, consegui colher informações sobre algumas das etapas que foram ocorrendo desde a fundação até o fechamento da fábrica.

                                 O Bambu é o objeto principal deste relato.

UM POUCO DA HISTÓRIA...

O  proprietário de uma área na localidade de Bom Retiro, um distrito de Pedras Brancas( hoje município de Guaiba), idealizou a instalação de uma indústria voltada para produzir papel e papelão, ainda no período Brasil Império, por volta de 1880.
Este senhor (de origem alemã), contratou em Porto Alegre o engenheiro Henrique Brockman, também alemão, que seria o então encarregado da instalação dos gasômetros em Porto Alegre e interior do RS.  A partir daí, Brockman iniciou uma série de estudos para a fundação desta indústria que, por ter um processo poluidor por excelência(principalmente com relação ao cheiro que exalava), não deveria ser instalada nas proximidades do rio e/ou perto de uma concentração populacional que Pedras Brancas(cidade de Guaíba) já tinha nesta época. Optou então por instalá-la no distrito de  Bom Retiro que seria localizada a mais de 20 km da cidade e estaria mais próxima de  um local que teria um porto fluvial nas cercanias, para deslocar esta produção a um custo razoável, uma vez que não se dispunha de estradas e meios de transporte que se tem hoje. Além disto, estaria situada próxima às fontes produtoras de madeiras e dos produtores de arroz, cuja casca serviria de matéria prima opcional barata. Posteriormente, as áreas que estariam no entorno da indústria iriam dar lugar a imensas florestas de Bambu e outros reflorestamentos que viriam a seguir.
Nesta época, lá por 1885, o Eng. Brockman iniciou as tratativas para a montagem da indústria, que receberia os equipamentos adquiridos que ele próprio foi buscar na Europa, onde tinha contatos e conhecia os principais fabricantes das máquinas e do processo de transformação da celulose e do papel.

A fundação desta fábrica ocorreu aproximadamente em 1895 com as etapas preliminares estabelecidas : Local/Equipamentos/Matéria prima/Escoamento. Faltavam alguns complementos fundamentais, tais como água e material humano para operar toda a cadeia produtiva. Sabe-se que a água é um fator importante na indústria da celulose e papel e, para tal, seriam construídos sistemas para coletar água dos arroios. Com o passar do tempo foram necessários novos condutos, barragens como a do Arroio do Conde e um poço artesiano para alimentar a indústria e reservatórios para abastecer o processo, alimentar o vilarejo dos moradores na localidade e as residências dos funcionários.
A Fábrica de Papel e Celulose Pedras Brancas começou a operar utilizando como matéria prima  diversas madeiras regionais e cascas de arroz, disponíveis em larga escala pelos arrozais da região. Como as matérias primas iniciais não atendiam esta demanda, de cerca de 3 t/dia de papel, no final do século 19 iniciaram as plantações de Bambu em toda a região. Poucas informações estão disponíveis sobre as técnicas, sobre o plantio e manejo das florestas de Bambu. Embora tenha conversado com alguns técnicos do ramo, não consegui obter a informação sobre o porquê da escolha da espécie Bambusa tuldoides para esta finalidade. Sabe-se hoje que esta espécie não é a que melhor resiste ao nosso clima aqui do RS, principalmente  se tratando de uma região onde as geadas são devastantes.

 Foto atual do interior uma destas florestas de Bambusa tuldoides que estão praticamente abandonadas

A produção permaneceu utilizando estas matérias primas por muitos anos, tendo o Bambu como principal insumo, até pelos anos 60, quando a fábrica foi transferida para Guaiba com o nome de Cia. Pedras Brancas. Nesta época já estavam estabelecidos os plantios de eucalipto e acácia na área. Com o tempo várias indústrias mais modernas, que utilizavam tecnologias mais eficientes, com melhor controle do processo poluidor puderam se situar dentro da atual área do município de Guaíba para se localizar junto as demais empresas do ramo de celulose.
Na década de 80 estaria deixando de produzir celulose a partir do Bambu o que ocorreu após ser vendida para outro grupo da área do papel.
As imensas áreas de plantações de Bambu da região foram devastadas( e ainda estão sendo) e substituídas gradualmente por plantações de Eucalipto  e Acácia que são madeiras de reflorestamento predominantes em todo o RS, principalmente nestas imediações.
No mapa  do Google Earth acima observa-se várias pequenas manchas de florestas de Bambu remanescentes, próximo ao km 125 da Br290(que podem ser vistas da estrada) como na foto abaixo.

No canto esquerdo superior da foto, entre a floresta de Eucalipto(árvores altas mais verdes) e a parte central que são os arrozais - Toda esta extensão é uma floresta de Bambu remanescente das antigas plantações de Bambu que alimentavam a antiga fábrica.

 Na foto abaixo outras malhas próximas a sede da fábrica em Bom Retiro.
Existem ainda dezenas de outras malhas que podem ser vistas ao se transitar nas estradas da região.












Na década de 80 tive a oportunidade de trabalhar por alguns anos na empresa Celupa, que pertence ao Grupo Melitta da Alemanha. Nesta época chegamos a processar, na confecção dos filtros de café, em um pequeno percentual, a celulose proveniente do Bambu fornecida pela empresa Pedras Brancas quando já estabelecida em Guaíba. Vale lembrar que a fibra resultante do Bambu é uma fibra curta que define um certo poder filtrante quando conjugada com fibras de celulose longa predominante neste tipo de filtro.









VEJAM ESTE INCRÍVEL VÍDEO SOBRE A FÁBRICA DE PAPEL DE BAMBU NO LINK ABAIXO:
https://www.youtube.com/watch?v=mcLgQBB9cy


A FÁBRICA NOS DIAS DE HOJE

Depois do período áureo restaram as ruínas e promessas em transformar a área em um museu, onde estaria registrada a história da vida papeleira da região.
Uma edificação bastante imponente para a época e muitos equipamentos semi-destruidos pelo tempo vistos ainda hoje.

















Obtive muitas fotos dos antigos equipamentos destruídos pelo tempo e pelo descaso:

Cilindro secador
     










































O objetivo deste artigo é especificamente vincular a existência de remanescentes florestas de BAMBU da espécie Bambusa tuldoides nesta área e seu entorno com a produção de papel. Desta forma, colocar a conhecimento da comunidade bambuzeira que esta seria talvez,
           A PRIMEIRA FÁBRICA DE PAPEL A PARTIR DO BAMBU  no Brasil.

Uma das coisas mais interessantes de tudo isto é que, quando criança( ou seja, mais de 60 anos atrás) eu lembro de comprar pão nas padarias lá em Bagé, RS e o pão vinha embrulhado em uma folha de um papel de Bambu... Naquela época nem pensava que eu estaria tão envolvido com o Bambu como estou hoje.

Informações adicionais:
Fontes de consulta na web:
http://www.celso-foelkel.com.br/artigos/outros/12_Relatos%20historicos%20da%20Companhia%20Fabrica%20de%20Papel%20e%20Papelao%20de%20Bom%20Retiro%20de%20Guaiba.pdf
e também em:
Video sobre o Arroio do Conde:
https://www.youtube.com/watch?v=15c-3lJ2Hag
Algumas informações pessoais obtidas com um morador(nome desconhecido) do vilarejo de Bom Retiro, que cuidou das ruínas por algum tempo e do Sr. Genivaldo Moraes, cujo pai trabalhou por algum tempo na região, na colheita dos Bambus.

Agradeço a todos os que, de alguma forma, contribuíram para a compilação destas informações. Todas as fotos aqui colocadas são de minha autoria com exceção dos vídeos compilados do Youtube com o respectivo autor nominado neles.
Novas informações poderão ser adicionadas por alguém(com os devidos créditos) que queira colaborar em incrementar ou corrigir as já descritas neste relato.

10 comentários:

  1. Texto muito interessante que resgata uma parte da história do RS, eu nao sabia da relação do bambu com a fabricação do papel aqui no estado. Parabéns Eni.

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  2. Conhecia a existência da fábrica de papel, mas não sabia que a origem era o bambu, ótima iniciativa de resgatar e divulgar uma parte da nossa história.

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  3. Parabéns pelo blog. Conteúdo muito bom

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  4. Obrigado aos que comentaram sobre o artigo. Vejo que o intento foi atingido.

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  5. Parabéns, gostei do blog muito importante. Pena que fechou. Sei que tem uma fábrica de papel feito com bambu em Recife. Porque alguns anos atrás fui vender corante para papel nesta fabrica. Parabéns abraço.

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  6. Parabéns pela reportagem da fábrica muito importante este relato. Conheci uma fábrica de papel de bambu em Recife, não sei como está lá hoje fui vender corantes nesta fabrica. Obrigado pela sua publicação, são conhecimento que enriquece. Abraço

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  7. muito interessante, alem da fabrica de recife em Pernambuco, há também essa https://www.youtube.com/watch?v=ieMwC4LGfu8 em Coelho Neto no Maranahão, que pertence ao mesmo dono dessa de Pernambuco, mas estão todas duas fechadas. e como é ultrappsado essa tecnologia usando bambu, acho que não voltam mais a funcionarem.

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  8. pena que não virou um museu,eu moro bem perto da fabrica da alguns metros de onde se localiza ela

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  9. Muito bonito e bom saber que houve um comprador de bambu

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  10. Parabéns Ene, pelo documentário...relatos importantes para a história da indústria florestal brasileira....lamentável esta estrutura não estar preservada...

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