Total de visualizações de página

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

COMO PLANTAR E CUIDAR DA SUA MUDA DE BAMBU

PLANTANDO E CUIDANDO DOS BAMBUS




Abaixo procuro descrever a sequência  de alguns cuidados para o transplante de mudas de bambu. São procedimentos convencionais para a maioria das plantas, adaptados com algumas peculiaridades para o Bambu.

Este artigo engloba o plantio de pequenos lotes de mudas  para colecionadores, aficionados ou paisagistas e não se destina ao plantio de larga escala(embora  possa servir como uma referência)


GENERALIDADES SOBRE A CULTURA DO BAMBU EM NOSSA REGIÃO

Aqui no estado do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil, o Bambu não tem tradição técnica institucional, nem para o cultivo nem para o uso. Muitas vezes questionei amigos da área agrícola,  Engº Agrônomos e Técnicos agrícolas sobre quando isto? ou quando aquilo? ou quanto disto? ou qual o melhor fertilizante? ou qual a melhor época?  qual o melhor método? qual a melhor embalagem para mudas?... qual o melhor substrato?.. e as respostas sempre foram evasivas ou generalistas.

Temos aqui no Brasil muitos renomados pesquisadores, mestres, professores e técnicos especializados em Bambu, mas poucos estão aqui no sul do país! Logo, como fui eu mesmo que plantei todas as quase 70 espécies da minha coleção, as cultivei e as vi crescer, nestes últimos 20 anos sendo que, de algumas delas tenho várias touceiras(mais de 100 touceiras ao todo), estas respostas tem que ser dadas mais ou menos assim:
                       Deu certo?...  está dando certo?... então vamos em frente!
Antes, porém, gostaria de abordar alguma coisa sobre clima e localização.
Em se tratando de Bambu, aqui no estado do Rio Grande do Sul, as coisas são um pouco diferentes do que nos outros estados e demais regiões do país, tanto no tocante ao clima, índices pluviométricos, altitude e quanto a outros fatores (não menos importantes).

Coloquei este mapa abaixo para que, quem não conhece nossa posição geográfica, possa localizar o estado do RS no mapa da América do Sul e do Brasil, em relação ao mapa mundi (mais abaixo) e poder comparar a nossa região em relação as áreas onde o bambu se desenvolve no mundo.

Basta observar a extremidade sul do Brasil no mapa abaixo para que se tenha uma idéia do que estou colocando aqui. Posicionando o mapa do RS ( mapa1) abaixo, onde está a distribuição de bambus no mapa mundi(mapa2), se pode constatar que este é o extremo da distribuição (natural) de bambus no sudeste da América do Sul junto ao Uruguai(**).

 


mapa1
Em outras palavras, o RS está localizado na "extremidade distal" (em relação a linha equatorial) onde se pode ter bambus. Onde termina a marcação colorida em azul está uma seta vermelha que indica esta extremidade.
No mapa mundi abaixo se observa a distribuição global, apenas ilustrativa(manchas azuis) e se refere ao BAMBUSOIDEA, de todos os gêneros de bambus, ou seja, abrange bambus herbáceos, arbustivos, lenhosos, de médio porte e de grande porte(inclui todos os chamados bambus gigantes com mais de 10 cm de diâmetro). 

Cada região tem sua peculiaridade em desenvolver espécies de maior ou menor porte como os Guadua no Centro-oeste, noroeste do Brasil e Colômbia. Estes bambus de grande porte, tanto os Guadua como outros bambus exóticos asiáticos, conhecido como "bambus gigantes", até  se desenvolvem aqui no sul do Brasil, mas "sem" as suas características ideais em diâmetro e altura das varas com o mesmo "performance" que se desenvolvem em suas regiões de origem.(*)                                                       mapa2
                                                                                                 

(mapa do site do INBAR)
Estes comentários feitos até aqui são para "justificar" que nem todos os bambus da mesma espécie, que se vê pelo mundo afora, terão o mesmo aspecto e dimensões ideais como em suas regiões de origem. Muitas pessoas interessadas em plantar bambus aqui no RS nos procuram tentando encontrar espécies que aparecem nas literaturas sobre bambus com diâmetros de 35cm e alturas de mais de 30 metros.


PREPARATIVOS ANTES DE PLANTAR O BAMBU NO SOLO E/OU EM VASOS


As mudas de bambu que são comercializadas (em tubetes/sacos/ potes) no BAMBUPLATZ GARTEN já possuem sistemas radiculares bem estabelecidos e, de uma certa forma, "climatizadas" e estão prontas para serem transplantadas para o solo, canteiros ou para outros vasos maiores.


No caso de transferir a muda para um pote maior do que o original: 
Adquira no mercado um substrato de boa qualidade ou prepare um substrato a partir de insumos que você dispuser. Convém estar atento para um substrato ou mistura de terra que seja "leve" que possa manter  o rizoma e as raízes aeradas.


Se você adquiriu uma muda e não conseguir plantar seu bambu no chão imediatamente, verifique a planta diariamente para garantir que o pote original não esteja seco.


São muitos anos de testes e experiências mas ainda muitas vezes me questiono ao me deparar com certas situações. Muitos aspectos sobre o que é "melhor" para plantar e transplantar bambus ainda podem ser questionados e melhorados. Isto é  o que sempre tenho buscado com os meus pares em visitas a outros colecionadores e produtores de mudas de  bambu como eu. 


QUANDO PLANTAR?

Esta resposta me foi dada pessoalmente pelo Yves Crouzet, que é um experiente e renomado produtor e distribuidor de mudas de bambu, quando visitei sua coleção no seu Bambuparque em Odemira, Portugal.
Estas foram suas palavras:

 "Ao contrário do que muita gente pensa os bambus devem ser plantados ainda durante o período de frio". Da metade do Inverno em diante( logicamente posterior ao período das geadas), para que em seu período de brotação, que é da primavera até o verão, já aponte os primeiros brotos.

Aqui no RS (e os estados do sul) tenho o cuidado de recomendar  que seja depois do terceiro terço do inverno que, embora ainda se corra o risco de geadas, o clima é mais estável e os dias começam a ficar mais quentes e maiores.
As proteções que utilizo na época de geadas estão demonstradas aqui abaixo e também em um outro artigo aqui neste blog.


Consiste de uma estrutura de tela soldada de aproximadamente 2 m de altura e 2 a 3 m de comprimento, envolvida com um filme plástico com pequenos orifícios,uma área de inspeção que serve de acesso para eventuais intervenções e para molhar a planta quando necessário. Na parte superior, coberta com  um sombrite de 50% cintado com elemento elástico para facilitar o acesso. 
(veja mais abaixo fotos de como confeccionar e instalar estas proteções)


LOCAL E CUIDADOS COM O SOLO


É importante conhecer a análise do solo do local do plantio de seus bambus. Eles não gostam de solos ácidos de pH<6,5  neste caso, sempre é conveniente aplicar calcáreo no fundo da cova e um pouco na terra removida e que será usada no preenchimento da cova, posteriormente.




A medição ("caseira") do pH pode ser feita com o seu medidor da água da piscina fazendo uma solução com a terra do buraco com um pouco de água. Existem várias dicas na web de como improvisar esta medição.
Obs.: Logicamente o procedimento ideal é o de colher a amostra e levar para análise em laboratório habilitado ou utilizar equipamento adequado.

DICAS PARA PLANTAR USANDO VASOS
Como os bambus gostam de boa drenagem da água, uma terra com uma boa dosagem de vermiculita será bom(ou outra fibra que permita aeração e leveza). A colocação de porções de pedras britadas ao redor dos furos do vaso, cobertas com alguns filtros de café usados com a finalidade de separar a terra da brita(chamada brita zero), dará uma boa drenagem.
 DICAS PARA PREPARO DE UM SUBSTRATO

Caso não disponha de turfa pronta, improvise o seu próprio substrato misturando a terra do seu local, areia média e estrume (o que tiver ). 
Proporção: Terra do solo local 50%, areia 25% e estrume(compostado) 25%.
Ou, (se houver disponibilidade): Terra local34%, casca de arroz 33% e estrume 33%
Obs.: Algumas literaturas indicam a colocação na mistura de pó de rochas.

PLANTIO DO BAMBU NO SOLO
Preparo da local.

Fazer uma cova  com o dôbro do tamanho do pote tanto na altura quanto no diâmetro que poderá ser quadrado ou redondo.


Quanto maior o diâmetro da cova, melhor.

Se o seu solo for arenoso, remova-o e reserve a porção para misturar no solo de preenchimento com os demais componentes que for utilizar. Se não for arenoso, será conveniente misturar um pouco de areia média  na terra que você reservou.

Se o local da cova possuir raízes de outras plantas, remova-as da terra e do entorno o máximo que puder( elas irão concorrer com o seu bambu no futuro).

Se conseguir preparar a cova algum tempo antes do plantio será melhor para a colocação da planta ( colocar água e alguns nutrientes - calcário/ NPK(10-5-5) e cobrir com terra estes insumos no fundo).

Atenção: a colocação de NPK pode ser feita na terra de preenchimento, mas evitando contato das raízes da nova planta que está sendo colocada na cova.
Evitar a colocação de excesso de nutrientes também no fundo da cova, pois parte será perdida e servirá para alimentar as raízes concorrentes das plantas que estiverem em torno de sua nova muda.
Existem no mercado inúmeros produtos com outros componentes indicados para gramíneas que oportunamente poderão ser adicionados.
   
Cova pronta para receber o pote.

 
Posicionar o volume a uma profundidade de modo que o nível do solo no pote fique ao mesmo nível que o solo ao seu redor. Ver o esquema ao abaixo:










Colocar um pouco de terra seca misturada com seu substrato no fundo da cova, firmemente. Remova o bambu do pote com cuidado para não romper as raízes que muitas vezes ficam coladas nas paredes e na parte inferior do pote ou saco original. Procure fazer isto com a planta já posicionada no local na cova.

Se estiver em pote faça rasgos verticais em 3 ou 4 pontos  de forma que o pote abra a lateral e solte o fundo. Se houverem muitas raízes enroladas ao redor do fundo, apare um pouco esses excessos.

Se as mudas estiverem em sacos, faça rasgos verticais de cima até ao fundo do saco,  laterais para soltar completamente o torrão uniformemente, para não haver ruptura de raízes, evitando que o torrão se desfaça.

Executar estas operações no local de transplante.

OBS.: NÃO TENTE RECUPERAR OU SALVAR POTE ORIGINAL.










"Quebrar os ombros da cova".
Consiste em retirar a grama e raízes e outras plantas que estiverem na circunferência externa da cova.  
Separar para desmanchar os torrões de terra e colocar a terra em volta, fazendo um talude de proteção ao redor da planta após o plantio.
Esta prática reduz a concorrência de água e nutrientes que as outras plantas, que circundam a nova muda plantada, poderão fazer no princípio de sua adaptação ao novo local .



 Colocar o restante do substrato preparado e misturar com a terra retirada da cova para completar o local na volta da muda, de maneira que o solo fique todo nivelado com o solo local


 

Muda plantada

Usando um pouco do solo removido da cova crie, um montículo de terra em forma de talude, com alguns centímetros de altura, ao redor da borda externa da cova preenchida. Isto ajudará a reter a água ao redor da planta, ao regar.

COLOCAÇÃO DAS PROTEÇÕES

Se no local houver animais, estas proteções deverão ser mais amplas, ou seja, de dimensões suficientes para que os animais não alcancem as folhas. Os bambus fixadores da estrutura deverão ser de maior diâmetro e quantidade, de forma a dar maior rigidez a estrutura.
Animais de grande porte tais como: suínos, caprinos, ,equinos e gado em geral
adoram as folhagens e brotos de bambu; portanto... Tela firme na volta deles!
Obs.: Alguns animais selvagens podem vir a saborear os brotos...(antes de você)!
  
No caso de proteção às geadas, que é o caso aqui do sul do Brasil e países vizinhos(quanto mais ao sul pior), basta executar uma estrutura similar à demonstrada abaixo com uma tela soldada comum de 2x2m(conforme fotos anteriores), fixada ao solo com algumas "taquaras" e envolvida por um plástico aberto na parte superior, coberta com tela sombrite fixada a estrutura. 

Tenho um outro artigo aqui neste blog sobre as proteções das mudas para o inverno.










Fixar a tela nas estacas e procurar fixar alguns raminhos mais frágeis para não ficarem se chocando com o vento e batendo nas estruturas em seu redor.



Colocação do plástico de proteção às geadas/frio da muda recém plantada

Esta cobertura plástica pode ser removida no término do período de geadas mas poderá ser necessário que volte a ser colocada no ano seguinte. Depois do 2º ano da muda colocada no solo não será mais necessário este tipo de proteção, salvo se a espécie de bambu for muito sensível ao frio abaixo de -5ºC. A tela poderá ser mantida pelo tempo que julgar necessário. Aqui na minha área tenho uma coleção de várias espécies que são de diferentes comportamentos em relação ao frio. Em algumas é preciso manter estas proteções por mais tempo do que outras.





Quando chegar o período mais quente, ao remover o plástico pode (em alguns casos ate é necessário) colocar um sombrite fixado ao redor da tela para proteger a muda nos primeiros contatos com o sol direto, se o local for sem sombra parcial.
O sombrite além da proteção ao sol direto exerce uma proteção aos predadores rasteiros e também restringe o acesso de insetos. 

REGANDO O BAMBU
  
Os bambus, como a maioria das plantas, exigem uma boa e completa irrigação quando a superfície do solo começar a ficar um pouco seca.
Coloque água suficiente a umidificar o solo porém, sem encharcá-lo. Os bambus não gostam de solo com excesso de água.
Algumas espécies são mais tolerantes ao excesso de umidade do que outras, mas esta dosagem só se define com o conhecimento da sua planta e local.


- QUANDO O BAMBU ESTIVER EM POTE 
Verificar diariamente, no período mais quente, se há secura na superfície da terra no pote e regue-o quando for necessário. A maneira mais certa de matar uma planta de bambu é deixa-lo secar... a outra é encharcá-lo!
Existe no mercado um aparelho de baixo custo(aprox.5$USD) com duas hastes que medem respectivamente, a umidade e o pH de pote e solos.

  

-QUANDO O BAMBU ESTIVER NO CHÃO

 Na primeira vez, coloque água no bambu recém plantado até que o solo fique saturado e a água desapareça alguns centímetros. Se for em período seco, repita isto várias vezes ao longo das próximas horas, para garantir que todo o solo do entorno tenha absorvido água e que qualquer ar preso no local plantado borbulhe até a superfície. Se necessário coloque mais terra para que o conjunto não afunde e o nível da planta abaixe muito em relação a terra em seu redor.

Regue o bambu recém plantado todos os dias durante a primeira ou segunda semana, "se houver necessidade". Depois disso, deixe a superfície do solo começar a secar antes de regar e proceda a rega como nas outras plantas.


As regas devem ser feitas durante o dia quando existe luz suficiente para a fotossíntese. Evite molhar a noite pois a água não será utilizada pela planta e irá estimular o desenvolvimento de microorganismos que poderão não ser benéficos.
 
SE AS FOLHAS DO BAMBU ESTIVEREM ENROLADAS E MURCHAREM - ÁGUA IMEDIATAMENTE !

ALIMENTANDO O BAMBU

Use um fertilizante de alto teor de nitrogênio, de boa qualidade e de alta liberação de nitrogênio que pode ser o 10-5-5 e/ou próximo desta dosagem (ou consulte alguém da área para opinar). Sempre tem um para dar palpite. 😄 
Se você está plantando entre abril e junho, pode aplicar uma pequena quantidade de fertilizante e depois não fertilizar novamente até setembro. De dezembro a abril se pode aplicar fertilizante liberalmente "em doses razoáveis" ao tamanho da planta. No caso de touceiras de bambu que já estão no solo, algumas vezes aplico o fertilizante misturado em um pouco de terra mesclada com estrume, para dar uma nova cobertura sobre as folhas secas que estão caídas ao redor da touceira.

O bambu aprecia muito a comida durante a estação de crescimento (de setembro a novembro para os alastrantes e de dezembro a abril para os entouceirantes). Você também pode colocar todas as palhas/resíduos vegetais disponíveis  no seu local ao redor da planta para preservar a umidade e evitar concorrência de outras plantas.

Tenho muito pinus nas cercanias da minha área e assim utilizo as pinhas que caem da árvores e faço uma moedura misturando com o resíduo de todas as palhas que são geradas das palmeiras e dezenas de outras árvores daqui do Bambuplatz Garten. O resultado desta moedura é colocado nas covas ou por lanço sobre os canteiros e algumas vezes no mix dos potes de mudas. 
Utilização de folhas e moagens de resíduos orgânicos nos caminhos do Bambuplatz

PROTEÇÃO AOS PREDADORES

Normalmente os bambus são bastante resistentes aos insetos com raras ocorrências quanto a formigas, ácaros e outros insetos foliares. Nenhuma proteção adicional é necessária. Se houver necessidade, podem ser aplicados preparados caseiros do tipo óleo de cozinha/sabão neutro, solução de fumo e outras, para prevenir alguns ácaros.

Em outros artigos neste blog tenho descrito sobre as atividades de insetos que, por vezes interferem no desenvolvimento de alguns tipos de bambu.  Nestes artigos também descrevo como fazer a prevenção contra estes insetos ou aracnídeos.
OBS.: Como estas técnicas foram sendo obtidas experimentalmente, elas podem ser modificadas no sentido de se obter melhores resultados a partir de novas experiências e/ou novas informações.

Serão aceitas sugestões dos que lêem este artigo e testadas, no sentido de aprimorar tanto o artigo como nossas técnicas e, logicamente, serão repassadas neste mesmo blog como complemento, com os créditos ao colaborador.


OBS:
(*) O mapa divulgado junto ao comentário assinalado foi retirado da web publicado em diversos trabalhos científicos sobre bambu sendo de autoria desconhecida.
(**)O comentário sobre a distribuição de espécies de bambu no Uruguai não é abordado aqui neste artigo por ser dirigido unicamente aos bambu no Brasil, mais especificamente no estado do Rio Grande do Sul.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

WORLD BAMBOO DAY 2019

DIA MUNDIAL DO BAMBU

" Desejamos a todos os amigos do blog do BAMBUPLATZ GARTEN um excelente dia do Bambu para todos os povos de todas as nações."

Iniciamos a partir desta postagem o lançamento no blog de uma série de figuras de design exclusivo com características da nossa planta preferida que poderão ser utilizados em outras oportunidades citando o crédito ao nosso blog.





quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Bambusa oldhamii - UM BAMBU PARA O FRIO

Bambusa oldhamii

            UM BAMBU PARA O FRIO

PORQUE CHEGUEI A CONCLUSÃO QUE ESTE É O BAMBU CERTO PARA O SUL DO BRASIL... E TAMBÉM A MINHA HISTÓRIA DE AMOR PARA COM ESTA ESPÉCIE




As fotos abaixo mostram a sequência cronológica da evolução das plantas colocadas na área para o teste.
EM 2002


A sequência da colocação das mudas foi a seguinte: 14 mudas alinhadas do primeiro plano até a última - Bambusa vulgaris(1) - Bambusa vugaris(1) - Bambusa oldhamii(1) - Dendrocalamus asper(4) - Bambusa oldhamii(1) - Dendrocalamus asper (3) - Bambusa vulgaris(1) - Bambusa oldhamii(1) Bambusa nutans(1). Esta sequência pode ser observada nas fotos a seguir.
Em 2003


Nesta foto se observa a sequência citada acima. A primeira, à direita da foto é o B.vulgaris a seguinte é o B.oldhamii as outras 4 adiante são os D.asper (já demostrando desenvolvimento menor que os B.oldhamii). As maiores em altura são os B.oldhamii. Na foto abaixo esta evidência fica mais clara.
em 2007



..17 ANOS DEPOIS


                                   

A sequência em sua plenitude, onde os B.oldhamii tomaram uma proporção tão grande que, praticamente, encobriram os D.asper.

UM POUCO DE HISTÓRIA

A primeira vez que vi uma touceira adulta do Bambusa oldhamii foi fora do Brasil, em um passeio dentro do Disneyland Park em Anahein,CA na beira de um lago artificial, lá pelos anos 2000. Depois o vi em uma coleção de bambus no Huntington Garden, em San Marino na grande Los Angeles,CA  durante uma Convenção anual da American Bamboo Society em 2004, que participei. 

Bambusa oldhamii da Disney

A touceira do Huntington me causou uma impressão muito maior do que as que tinha visto anteriormente na Disney, pois era simplesmente "enorme" muito bem cuidada, com colmos em sua plenitude de configuração, com varas de um verde intenso e muito retas.
Nesta época eu já tinha plantadas no meu local algumas touceiras de Bambusa vulgaris e muitas de Bambusa vulgaris "vittata" já adultas,
bem como outras espécies  de bambus alastrantes. 
As minhas mudas de B. oldhamii e D. asper(adquiridas na coleção da Unesp/Bauru) eram muito jovens ainda nesta época e não passavam de "algumas varinhas" de no max. 5cm de diâmetro. 
Mesmo já tendo estes bambus na minha coleção, não podia fazer nenhuma comparação com os que tinha visto por serem muito jovens. Eu não tinha idéia no que eles se transformariam quando os plantei. Mal sabia que aquelas "plantinhas" teriam aquela portentosidade quando ficassem assim como as do Huntington Garden.


Estas fotos são dos B.oldhamii atualmente e chegam a ser maiores ainda dos que tinha visto lá além de serem mais altas e mais eretas.




No Huntington Garden, diga-se de passagem, existem dezenas de outras espécies de bambu(70) ali cultivadas pelo proprietário anterior do local, que era um aficcionado por plantas e tinha um imenso jardim com uma bela coleção de Bambus. 
É um passeio muito bom, em uma  ida a Los Angeles, incluir uma visita a este local, que além dos bambus tem uma coleção de Cicas, Orquídeas e outras plantas.
O "The Huntington Garden" é uma biblioteca e um verdadeiro palácio com coleção de artes e decoração de conservação impecável.
Ler mais sobre ele em: http://www.huntington.org e pode ficar hospedado lá mesmo.

Algumas vezes já tinha observado a presença do B. oldhamii em outros locais, mas ainda desconhecia sobre as diferenciações desta espécie comparada as outras do mesmo gênero Bambusa. 

Quando retornei de lá, sabendo que tinha no meu local 8 mudas de B.oldhamii plantadas, já com 2 anos, fiquei mais empolgado em fazer com que elas chegassem próximo da beleza das que tinha visto lá.

Depois disto comecei a observar o quão difundido e admirado era este bambu nos EUA, no mundo todo e aqui no Brasil também, junto a colecionadores que já os tinham plantados e  outros usuários.

Um ano depois, em 2005, fui visitar  a Fazenda dos Bambus em Pardinho e a UNESP em Bauru quando o prof. Marco Pereira me apresentou as matrizes de onde teriam vindo as minhas mudas.

Visita a Bauru e mudas do Marco Pereira com Hans Kleine e David Escaquete

Realmente confirmei o que eu já estava convencido:... se ele não era o "REI DOS BAMBUS" (porque os Dendrocalamus asper,giganteus, sinicus, etc... eram mais poderosos em dimensões), ele poderia ser o "PRÍNCIPE DOS BAMBUS" entouceirantes. 
Comecei a ler e pesquisar sobre ele e a fazer um  teste que certamente me levaria a uma conclusão importante para o desenvolvimento do bambu aqui no extremo sul do Brasil.
Iniciei então os testes de adaptação dos bambus entouceirantes de grande porte aqui na minha região(que é representativa de boa parte de nossa topografia e clima), principalmente considerando o Bioma Pampa.
Região de baixa altitude, com 90m em relação ao nível do mar, com temperaturas que vão de -7ºC  indo a mais de 25ºC em um dia de inverno com direito a geadas e congelamentos á noite. O gelo derrete nas primeiras horas da manhã a ponto de cozinhar as folhas geladas e deixá-las pendentes e murchas em poucas horas. Em dois ou três dias elas estarão secas e cairão.



Acima fotos de algumas geadas e abaixo o resultado delas poucos dias depois em uma das mudas do D.asper, que estão plantadas junto com os B.oldhamii no teste acima citado.
Obs.: Tenho um artigo sobre as geadas neste blog escrito anteriormente com algumas fotos e situações. 

Neste local escolhido para o teste pode acumular 20 cm de água, durante chuvas intensas e drenar em alguns dias, porém deixando a área encharcada algum tempo.
Da mesma forma, no verão os extremos também são duros tendo temperaturas que podem atingir 42ºC ao sol. O solo encharcado do inverno fica empedrado de tal forma por durante o longo período de verão.(15/nov a 01/mai)- 5 meses.
Como conheço bem meu local, em relação as áreas de maior ou menor acúmulo de água quando chove muito, e também as áreas de maior incidência de geadas e de outras condições que poderiam influenciar os testes, foi relativamente fácil encontrar o local ideal.
Logicamente não escolhi um local onde estivesse permenentemente encharcado, pois certamente ali nem as mudas plantadas iriam se desenvolver. Foi escolhido um local próximo como se pode ver na foto acima. Durante a chuvarada temporariamente as touceiras acumulavam um pouco de água no entorno e para evitar isto foram abertos drenos.

Início do plantio/teste em 2002


Foram colocadas em linha 14 touceiras de bambus com tamanho aproximado de 1m de altura, intercalando Dendrocalamus asper, Bambusa oldhamii, Bambusa vulgaris e Bambusa nutans. 

As mudas foram colocados numa só fileira a uma distância de 5m uma da outra, no sentido do caminho do sol, de leste a oeste. Para o teste foram alinhados os Bambusa oldhamii, Dendrocalamus asper, Bambusa vulgaris, Bambusa vulgaris vitatta e Bambusa nutans, na sequência citada anteriormente, com o objetivo de comparar o comportamento do desenvolvimento destas diferentes espécies num mesmo local, sob as mesmas condições de clima, solo, disponibilidade hídrica e outros fatores não menos importantes citados antes.
As espécies foram escolhidas em função de já ter sido observada a presença delas aqui no sul do país considerando que estas espécies, de uma certa maneira, poderiam resistir ao nosso clima.
Foi escolhido um local aberto, sem árvores em seu redor, onde as plantas pudessem ser submetidas as condições de insolação constante e, logicamente, as agruras do frio no inverno. Todas plantadas no mesmo dia, submetidas ao mesmo tipo de preparo de solo e covas.
Estas plantas foram  colocadas no Bambuplatz Garten desde que haviam sido adquiridas em 2002 com um porte não superior a 1,5m de altura como se vê nas fotos abaixo e no início deste artigo.




Foi feita uma análise de solo e nehuma correção foi indicada. Desta forma se presume que a condição de nutrientes seria equalitária a todas as espécies, logicamente desconsiderando que uma espécie ou outra iria ser mais exigente com algum tipo de nutriente ou alguns dos demais fatores expostos.

Este local onde os bambus foram colocados em linha tem as características específicas para os fatores que queria testar:

1 - TIPO DE SOLO - Profundidade de solo macio: 60cm - A partir desta profundidade um solo quase impenetrável de material lodo-arenoso - muito encharcado no período das chuvas(maio a novembro) e endurecido, quase impenetrável no período seco (dezembro a abril). Foi necessário fazer canaletas de drenagem a 2m de distância das touceiras para reduzir o encharcamento. No verão estas canaletas eram fechadas nas extremidades para evitar que a água fosse drenada para fora da área das touceiras.
Nas fotos se pode observar isto.
2 - CAMPO ABERTO e sem nenhuma vegetação alta ao seu redor (que é uma peculiaridade dos campos aqui da região metade sul e área de fronteira, onde não tem montanhas) 
3 - CLIMA - Bastante sol  ao redor durante o ano todo - Muitíssimo quente no verão, chegando a 40ºC ou mais ao sol.
- Bastante frio e geadas no inverno - Indo facilmente de -7ºC aos 25ºC em um mesmo dia de inverno.
4 - ALTITUDE - Regiões de baixa altitude em relação ao nível do mar(90m).
Procedimentos posteriores - Com o passar dos anos foram feitos manejos regulares nas plantas com a retirada de alguns colmos no interior das touceiras e desgalhamento na região dos brotos.

Ano a ano comecei a diferenciar a evolução das diferentes espécies plantadas. Ficava evidente  o diferente comportamento e desempenho do B.oldhamii em relação às outras espécies que estavam juntas. No ano de 2009 houveram geadas intensas e frequentes. que causaram uma queda apreciável na evolução de todas as demais espécies ali plantadas. Os Dendrocalamus asper chegaram a perder 90 % de seus ramos.

 
em 2009
    Observando os B.oldhamii(os mais altos) em relação aos outros em 2009.

Na foto acima se observa o que a geada do inverno, recém terminado, causou aos Dendrocalamus asper( que é uma daquelas três plantas que estão no centro da foto). Não esquecendo que todas estas plantas da foto foram plantadas no mesmo dia e hora.
Tal foi o prejuízo que elas praticamente nunca se recuperaram, como se pode ver nesta foto abaixo 5 anos depois.

Em 2014
Para evitar perda maior removi algumas destas mudas de Dendrocalamus asper para outro local mais protegido dentro do Bambuplatz Garten, onde elas evoluíram de tal forma que hoje apresentam colmos com mais de 15 m e diâmetros de mais de 20cm.


Diâmetro do B oldhamii maior do que 10cm

(Fotos de ângulos diferentes)
 

 

Durante este período comecei a produzir mudas a partir daquelas matrizes e as distribui em toda a minha propriedade, em locais diferentes, pois tenho alguns locais de solo com menor umidade residual e maior profundidade de solo e também outros locais protegidos por outras árvores. Em cada um destes locais o desempenho foi exemplar. Em todos consegui obter diâmetros nominais com varas de excelente qualidade. Chegando a obter varas de 10 cm de diâmetro e mais de 15m de altura extremamente retilíneas.
Muitas destas mudas produzidas foram adquiridas por outros colecionadores e estão distribuídas em diversas regiões do estado e do país, sempre com o relato de excelente desempenho.

Seguem algumas fotos de detalhes e medidas do B.oldhamii em sua utilização em paisagismo:





























O Bambusa oldhamii é conhecidamente  um dos brotos comestíveis de ótimo paladar e rendimento, além de outras dezenas de aplicações tais como: Estruturas como madeira, na indústria do artesanato, madeira para móveis, para laminados (BLC), compósitos, geração de energia, fibras para celulose e outras aplicações. Este tema será abordado em outra publicação específica para usos e aplicações das diversas espécies de bambu que poderão ter um bom desenvolvimento aqui no sul do Brasil 


CONCLUSÃO

O Bambusa oldhamii foi a espécie que melhor se adaptou às variações climáticas aqui na minha área, que está localizada na região da metade sul do estado do Rio Grande do Sul, quando comparada com as espécies entouceirantes citadas.
- Não é sensível às geadas, pois após elas, no dia seguinte, as folhagens não aparecem secas ou queimadas pelo congelamento da noite anterior mantendo-se verdes, mesmo em situações de geadas em dias consecutivos
- Não é sensível a baixa umidade do ar e também se mantém estável por longos períodos sem chuva.
 - Resiste bem a algum período de encharcamento de solo e mantém seu desenvolvimento normal mesmo nestas condições.
Estas características contrastam com as outras espécies entouceirantes que foram colocadas juntas com o B oldhamii nesta área. Algumas morreram e outras ainda permanecem sem evolução significativa, quase no mesmo tamanho que foram plantadas há quase 20 anos.

Os Bambusa vulgaris, plantados ao lado dos B.oldhamii conseguiram atingir dimensões superiores aos D.asper e B.nutans, mas ao iniciar o inverno perderam as pontas dos brotos que ainda não tinham galhado e cairam ao solo, os ramos que foram abertos secaram com as geadas e os colmos secaram nas extremidades. As varas perderam comprimento e ficaram retorcidas. O que não acontece com o B.oldhamii.

Os D. asper ficaram estáveis e ali estão até então, não evoluíram e não passaram de umas touceiras de 3 ou 4 varas de diâmetros não superior a 5cm. Isto comprova que entre os dois, B.oldhamii e D.asper, no referente as condições idênticas a que foram ambos submetidos o B.oldhamii demonstra sua superioridade de desempenho.

Como citei, tenho retirado mudas dos D.asper(destes que não se desenvolveram na área de teste) e os tenho colocado em outros locais mais protegidos por outras vegetações, dentro do próprio Bambuplatz Garten, onde atingiram estágios de evolução e crescimento mais próximos de sua configuração (de bambu gigante),com diâmetros de 20 a 25 cm. Mesmo assim, estes bambus não alcançam sua configuração de origem(nas suas origens-Ásia) se mantendo menores em altura e diâmetro. Muitas vezes também perdem a ponta ao atingirem o topo da touceira aos primeiros dias de geada no final do outono, o que nunca ocorre com o B.oldhamii.

Na foto abaixo uma das mudas(de B.oldhamii) que foi replantada da área teste para o meio da floresta da minha coleção no Bambuplatz Garten.


Outras fotos do B.oldhamii

 PRODUÇÃO DE MUDAS ATUALMENTE

 
Comentário final:


Como todos estes experimentos foram empíricos e não tiveram acompanhamento técnico de profissionais da área agrícola devo admitir que, se o tivesse feito, poderia ter orientado a evolução destas espécies de forma a garantir um desempenho diferente do que obtive, mas não era este o objetivo.
Como é sabido pelos que transitam no meio do bambu, esta planta não é uma planta estudada e conhecida na área de madeiras e reflorestamentos e poucos são os profissionais(aqui da região sul) que sabem sobre ela. Desta forma, o objetivo seria justamente de orientar aos interessados que quisessem iniciar o plantio de bambus por aqui sem que tivessem orientação profissional (assim como foi feito).
Convém esclarecer que os Dendrocalamus asper são bambus de grande porte e de diâmetro muito superiores ao do B.oldhamii . Aqui mesmo, dentro do Bambuplatz Garten os tenho com desenvolvimento exemplar, porém "somente" na área testada e naquelas condições citadas não apresentaram o desempenho esperado sendo superados pelos B. oldhamii.